quarta-feira, 25 de junho de 2014

Tet em Ho Chi Minh - parte II

Para além de cor, o Tet acrescenta também música e movimento à movida da cidade. No Parque 23/9, tropeço num palco largo mas adornado de modo simples, onde jovens de várias idades fazem desfilar apresentações musicais, atraindo um vai-e-vem de público misturado de locais e visitantes.

Instrumentos típicos do Vietname: um đàn nhị talvez?
Danças tradicionais

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Mas se falamos de festividades e enfeites, para além de múltiplos mercados de flores e espectáculos como os do Parque 23/9, dois outros corações urbanos batem mais forte durante o Tet: a rua Nguyen Hue, invadida por arranjos florais dedicados ao tema "Cidade de Ho Chi Minh - A cidade que eu amo", e o Parque Tao Dan.

Chego a este último relativamente por acaso, quando regresso ao hostel depois de um dia de passeio, aventurando-me em secções desconhecidas do mapa. Obrigada a avançar pela berma da estrada para escapar a largas áreas fechadas a peões e reservada para estacionamento, cedo me apercebo de que, na verdade, estou a caminhar pelo perímetro exterior de um recinto festivo. A música alta e ritmada escapule-se por cima dos muros que separam interior e exterior da festa e perto de uma entrada desenhada em arco, uma cabeça humana espreita pela janela de um balcão de venda de bilhetes. Não percebo nenhum dos escritos que me rodeia, seja o cartaz dos preços, seja o grande letreiro sobre a entrada onde se lê a frase para mim incompreensível: Hội Hoa Xuân / Thành phố Hồ Chí Minh / Giáp Ngọ 2014 (mais tarde o Google ensinar-me-á que se trata de um letreiro anunciando "Festival de Flores de Primavera / Cidade de Ho Chi Minh / Ano do Cavalo 2014").

Seja como for, percebo o suficiente para saber que se ali há festa, é ali que eu quero estar. Nessa noite, regresso ao local. Transpondo o grande arco adornado por flores amarelas, entro num jardim enorme, onde a noite se iluminou como se invadida por um exército de pirilampos, e sou teleportada para um mundo mágico.

Diferentes espaços foram organizados no parque, cada qual dando o seu melhor para atrair os visitantes: aqui exibe-se uma variedade impressionante de plantas ornamentais, ali de pássaros, noutro lado ensina-se a arte de esculpir vegetais e frutos, lá ao fundo aquários gigantes apresentam peixes raros, e um pouco por toda a parte espectáculos musicais, danças e jogos tradicionais enchem o ar de frenesim. Comes e bebes não podiam faltar, com os seus odores característicos.

Avanço pelo espaço atordoada, o meu olhar cata-vento rodando em todas as direcções. Dou-me conta da escassez de turistas e da abundância de locais, por vezes ligeiramente curiosos quanto à minha presença, mas na sua maioria indiferentes, dedicados de alma e coração a celebrar e gozar a vida.

Descobrindo o local da festa
Primeiras impressões
O ano do cavalo, um animal que simboliza
ritmo e entusiasmo
A expressão máxima da máxima popular
"os olhos também comem"
Um castelo escondido entre flores, num raro
momento sem avalanches humanas ao seu redor
Peixes nunca vistos. Até fico na dúvida:
nascerão mesmo assim?
Uma abundância de nenúfares


Mas a coroa de glória do Tet só é revelada na noite de 31 para 1: a noite do grande fogo de artifício. Sentindo-me sem coragem para enfrentar a multidão que, umas horas antes do evento, começou a rumar em direcção ao rio Saigão, onde o espectáculo tem lugar, escolho aproveitar o último andar do hostel e a sua promessa de vistas magnificamente desafogadas com lugar de luxo para assistir ao grande acontecimento. 

O espaço - um bar a todo o vapor - vai-se enchendo até à capacidade limite de turistas ansiosos pelo momento de fazer disparar a máquina fotográfica. Durante a espera partilham-se jogos de cartas e snooker, bebidas, dois dedos de conversa e uma proximidade física invulgar, feita de corpos crescentemente comprimidos uns contra os outros à medida que a hora se aproxima. Bem instalada no meu banco de pé alto na "primeira fila", apoio a máquina e vou tirando fotos à noite iluminada pelos edifícios e candeeiros de rua.

Por fim, a meia noite chega. O bar explode em alegria colectiva e enquanto se ouvem brindes de "Feliz Ano Novo outra vez!", o fogo de artifício começa. Assim que os primeiros foguetes se lançam sobre o céu nocturno, a primeira reacção é de desalento: à distância, a silhueta escura e alta de um prédio impede uma vista integral do arco-íris que explode infindável na escuridão. Mas com o passar dos minutos, a cada clique da máquina fotográfica, com o crescer das explosões e da luz que jorra rumo ao altíssimo, já pouco parece importar. Mesmo que com vista parcial, o espectáculo é inegavelmente magnífico, em cada um dos seus gloriosos quinze minutos.



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