terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O Natal acontece

O Natal acontece quando em nós se renova a esperança. Quando nos sentimos vivos até ao âmago e acreditamos ser possível a contínua redescoberta de quem somos. Acontece quando olhamos para dentro e celebramos a vida, gratos pelos amigos que nos rodeiam, pela família que nunca nos deserta, por todas as pequenas teias de afecto e presença de que se tecem os nossos dias.

O Natal não conhece tempo ou geografia, basta-lhe um coração disposto dentro do qual nascer. Aqui, no Laos, no meio de palmeiras e rios turvos de terra, só o frio invulgar me recorda Dezembro no meu país. Família e amigos estão à distância de inúmeras fronteiras, visíveis num ecrã mas inalcançáveis num abraço. Porém, o distanciamento físico não diminui a certeza da sua presença na minha vida. É ela que torna a magia possível. É também por ela que o Natal acontece, imperturbado, dentro de mim.

Este ano, passarei o vinte e quatro e o vinte e cinco à maneira do viajante, na companhia de amizades recém-formadas e em ambiente de festa diferente, despido dos símbolos natalícios habituais. Mas de alguma forma, é o mesmo espírito de sempre que se manifesta, essa insuprimivível vontade de comunhão.

Há pouco, ao sair do quarto da pousada em que estou alojada, um dos funcionários ofereceu-me fatias de abóbora cozida, ainda fumegante. Disse-me que era por ser Natal. Comi-a lentamente, saboreando cada dentada, e soube-me pela vida. Quis o destino o deixar-me esta prenda simples, sentida, inesperada, recordando-me uma vez mais que o essencial precisa de pouco para subsistir.

A todos, família, amigos e pessoas que comigo partilharam algum momento dos seus dias, muito obrigada pela vossa presença. Que o vosso Natal aconteça, onde quer que estejam, aconchegado, sereno e sobretudo muito feliz!

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Mergulho em Macau - parte II

Em vez de um repositório de fotografias dos principais pontos turísticos de Macau, em estilo de postal, lembrei-me de partilhar convosco algumas curiosidades e observações mais pessoais:

Peregrinação à Gruta de Camões, no jardim com
o mesmo nome

O mais adorável altarzinho de rua que encontrei,
no meio de muitos espalhados pela cidade





















Ruínas de São Paulo - a fotografia impossível
de tirar sem gente na moldura, pelo menos
à luz do dia
Num restaurante da Taipa, a seguir atentamente
o drama da  novela da hora de almoço











Yue Minjun - uma surpreendente descoberta,
no Museu de Arte de Macau












Macau dos grandes casinos e da
arquitectura disfuncionalmente
megalómana















Diz o povo que quem bebe água da fonte do Lilau
jamais esquece Macau, mas a mim este Largo
lembra-me mais Lisboa que qualquer outro recanto
da Ásia que tenha visitado












O expoente máximo da fusão: pastel de Nata de
inspiração portuguesa, com receita para gosto de
chinês e introduzido em Macau por um inglês. What?
Devoção, no Templo da Á-Ma, o mais
antigo de Macau




Natal e azulejos no interior do edifício do Leal
Senado, assim chamado, pelo que li, por ter mantido
a sua lealdade Portugal durante o domínio filipino,
que se recusou a reconhecer































Porto de abrigo e serenidade: o Centro
Ecuménico, encabeçado por Kun Iam,
Deusa da Misericórdia















Festival Fringe, à beira da água, em Coloane










Em Macau, o Grande Prémio é religião, com direito
a transmissão em directo e ecrã gigante na praça
principal 

Mergulho em Macau - parte I

Com um agradecimento à I., guia fantástica, anfitriã inexcedível e minha amiga do coração

Saio para a rua com emoção desmesurada. À minha volta ribombam as luzes dos grandes casinos e os edifícios erguem-se megalómanos, numa profusão de dourados e de promessas de uma outra vida onde o dinheiro está à distância de uma carta voltada ou do girar de uma roleta.

Mas se no meio destas ruas muralhadas de fortuna me bate mais forte o coração ou me assoma aos olhos, discreta, alguma lágrima, não é pela superfície de nada disto. A razão está escondida algures nas paredes transformadas de um edifício, o Hotel Lisboa, onde há muitos anos atrás uma versão mais diminuta de mim passou horas felizes a jogar em arcades e carrinhos de choque. Uma feira popular dentro de um prédio, é o que recorda o meu imaginário infantil, hoje como ontem com a mesma surpresa maravilhada.

Nos últimos anos o casino acoplado ao hotel cresceu e engoliu a velha sala de jogos electrónicos, que passou a uma simples memória no sucessivo construir e reconstruir da cidade. Foi dessa memória que vim hoje à procura, ansiosa por colocar sobre a mesa uma das inúmeras peças do meu puzzle pessoal.

Desses tempos, não me lembro de muito. Tinha quatro anos, e depois cinco, durante os meses em que vivi em Macau com o meu pai, na altura em que o território se encontrava ainda sob administração portuguesa. Por isso, talvez seja surpreendente que me importe tanto com o reconstituir desse passado ténue, mas importo-me.

E não, não só pela comum nostalgia de recordar a infância, mas disso só me dou conta ao fim dos primeiros dois dias. Em muitas coisas estou a conhecer Macau pela primeira vez, é verdade, mas para além disso, e para além daquilo que possa ainda restar na minha mente da primeira vez que aqui estive, há outra coisa mais antiga e, talvez possa dizê-lo, muito mais significativa. Quando testemunho a influência portuguesa na arquitectura da cidade, na sua comida, na língua escrita, nos seus habitantes e até turistas, quando penetro, pelas mãos da minha grande amiga e anfitriã I., nas rotinas e rituais da comunidade lusa que por aqui ainda se encontra, observando como se reúne em torno de hábitos, gostos e celebrações partilhadas, nada disso me sabe a uma primeira vez. Nesses momentos, é como se eu fosse, mais do que eu, o ponto presente na linha de uma família que ao longo da sua história correu continentes distantes e neles teve de construir para si um lar. Paticipando no presente, é também numa parcela desse passado que participo - o dos meus pais, avós, bisavós, trisavós e assim por diante.

Caminho pela cidade mergulhada nesta noção muito clara de pertença e num qualquer outro sentimento mais difuso e inexprimível. Será a sensação do círculo que se fecha? Do círculo que através de mim tem a possibilidade de se perpetuar? Não sei dizer.

O que se herdou de Portugal espreita por toda a parte. No Largo do Lilau, completo com banquinhos, fonte e quiosque, no Largo do Senado, com a sua Santa Casa da Misericórdia e a sua Pharmácia Popular, nas incontáveis igrejas, no teatro D. Pedro V, nos canhões da Fortaleza do Monte, no branco e amarelo do farol da Guia, nas ondas hipnóticas da calçada branca e preta, nos halls renovados mas ainda sugestivos do Clube Militar, nos nomes de tantas escolas, ruas e becos, nas placas e menus dos restaurantes, desde o Ou Mun à Caravela, ao Afonso III e à Vencedora, nas estátuas como a de Jorge Álvares e a de Camões, nas histórias que recorda o Museu de Macau, nos pratos de arroz de bacalhau e na centena de coisas que aqui não enunciei.

Em tudo isto está Portugal, sim, mas a cara bem distinta da Ásia nunca anda longe de assomar novamente à superfície. Vira-se a esquina e da igreja passou-se ao templo, do arroz de bacalhau ao chow mein e da arquitectura clássica ao mercado agitado, crescendo de forma orgânica com cada curva da rua.

Como os dias me vão mostrando, na barriga do grande caldeirão dos séculos que correm foram-se fundindo em Macau a história portuguesa, a história chinesa e outras histórias que em maior ou menor medida aqui deixaram a sua marca, cessando de ser unidades isoladas e estanques para darem lugar a algo de único. Nesta terra de dimensões reduzidas cabem as influências mais díspares, mas ao contrário do que se poderia supor, nenhuma delas verdadeiramente se contradiz. O todo harmónico resulta, justamente, da confluência das várias diferenças e, ao contrário do que sucede noutros lugares, cada elemento não sobressai como num aglomerado, antes se articula e enquadra como numa identidade. É nisso, e por isso, que Macau se torna Macau.

Para mim, porém, é difícil o olhar descomprometido, objectivo. É difícil não ir à procura de uma centelha de reconhecimento ou de conexão. A visita a estas paragens ficou irremediavelmente moldada ao feitio das minhas origens, memórias e expectativas. Talvez por isso, deixarei que sejam as imagens, e não as palavras, a contarem-vos o resto desta história.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Hong Kong às três dentadas

As águas agitam-se levemente, enquanto o ferry trilha os metros finais até ao terminal. Um alinhamento perfeito de prédios esticando-se em direcção ao céu observa a nossa chegada, qual parada militar orgulhosa, exibindo os seus uniformes e galões à multidão de barcos. Por enquanto, Hong Kong permanece assim, uma figura de estilo na minha mente, demasiado abstracta para lhe poder chamar real.

Mas assim que desembarco e passo a fronteira, entrando de pleno na confusão húmida da cidade, a fileira de prédios desbanda e desmultiplica-se em milhares de cruzamentos incomprensíveis, ruas inesperadamente sobrepostas e caminhos cuja direccão seguinte é impossível de adivinhar.

Temos uma antipatia estranha, Hong Kong e eu, mas deixo-me serenar pela certeza de que no meio deste aglomerado ainda anónimo haverá, como há sempre, qualquer coisa que eu possa amar. De qualquer modo, confirmo olhando o mapa, pelo menos não estou perdida: consegui chegar ao bairro certo, o que é uma proeza muito pequena, na verdade, dada a sua proximidade da zona onde atraca o ferry Macau - Hong Kong.

As combinacões que tenho para estes quatro dias implicam que hoje tenho a tarde inteira por minha conta e que só ao fim do dia poderei fazer check in no alojamento escolhido. Assim, e porque são horas de almoço, a prioridade torna-se rapidamente descobrir uma porta de onde se entreveja muita gente e uma ementa barata - os dois critérios que me têm guiado, em primeira linha, na minha incursão pela culinária chinesa.

Aterro na rua certa, à hora exacta. O restaurante desejado rapidamente se apresenta, com a sua sala grande cheia de mesas e cadeiras uniformes, partilhadas em igual medida por amigos e desconhecidos, que comem, por vezes com olhar perdido no fundo da taça, os seus noodles, arrozes e quejandos.

Congee de peixe
Sento-me - ou melhor, sou sentada - ao lado de um rapaz que come uma espécie de sopa espessa e branca e em frente a uma senhora idosa que cedo termina o repasto. Felizmente por aqui há uma ementa em inglês e, sentindo-me encorajada por este facto, decido pedir congee de peixe. Segundo me explica a empregada, o congee é uma espécie de porridge e, constato eu, a tal mistela branca que o meu amigo do lado acabou de engolir. A que sabe o congee, perguntam vocês? A muito pouco, para ser franca. Sabe a arroz aturadamente cozido até ficar papa com alguns grumos e, lá pelo meio dessa papa, encontrei vestígios do dito peixe, sob a forma de fatias fininhas e sem paladar assinalável. Em suma, ocorreu-me, é exactamente o prato que uma pessoa quer ver na ementa naqueles dias em que a barriga não está pelo melhor.

Bun ao vapor, com recheio de sementes de lótus
Depois do congee, que apesar de pouco saboroso era, pelo menos, aconchegante e muito barato - menos de dois euros! -, ficou-me o proverbial espaço na covinha do dente. Voltei a ter sorte. Uma esquina depois, na sugestivamente chamada Possession Sreet, avisto a mais apetecível banquinha de rua das muitas que tenho visto por aqui - ou pelo menos foi isso que me disse o tal buraco na covinha do meu dente. Por aqui vendiam-se uma espécie de dumplings fritos, em variante de carne e de vegetais, e depois uns buns ao vapor, com recheios vários, doces e sagados. Destes últimos, e sem nenhuma ideia do que era, escolhi o de sementes de lótus. E ainda bem que assim foi, porque era muito bom, levemente adocicado e bastante macio, tanto no recheio como na camada exterior.

Glutinous rice com mirtilhos
Contente com a minha descoberta, nem meia dúzia de passos tinha dado quando uma padaria na mesma rua me voltou a ficar na menina dos olhos. Lá se anunciavam, na montra, uns bolinhos de glutinous rice com fruta. Os meus favoritos, de mirtilho, tinham acabado, de modo que prometi a mim mesma que voltaria pela hora do lanche.

No entretanto, atirei-me à "grande deambulação", que é aquele passeio meio à deriva que eu sempre gosto de dar quando chego a uma nova cidade. Saltito entre ruas de antiquários e ruas de venda de comidas secas, passo pelo Fringe Club e pelo Foreigner Correspondents Club, vejo templos e igrejas, cruzo entradas de restaurantes oferecedo comidas do mundo inteiro, desde a tasca ao bistrô mais exclusivo, constato, de uma penada, a mistura de coisas que é Hong Kong. Como revela as suas raízes anglófonas, nas ruas e em quem por elas passeia, tornando-se depois inegavelmente chinesa nas ruelas e becos enviesados, para logo mudar para a sua veste mais cosmopolita, mais adiante em Hollywood Road e na zona de Soho. O tema da cidade parece ser a sua variação constante e a impossibilidade de a associar a um único rótulo simples de enunciar. Nunca, na demais China, vi tal diversidade de caras e de propósitos. O que não surpeende. Hong Kong, suspeito eu, pertence a uma classe de sítios inteiramente à parte, junto com Nova Iorque e outras cidades cuja singular e inigualável mistura define a essência do que são.

Andar pela cidade cansa, talvez mais do que em qualquer outra cidade até aqui. O meu pescoço ressente-se do peso de suportar a minha cabeça constantemente voltada para o céu, os meus pulmões fraquejam sob a pressão viscosa da humidade e todo o meu sistema, atacado pela multitude mais do que pela multidão, anseia pela calma dos últimos dias em Macau ou, talvez mesmo, da minha temporada no sul da China continental.

Mas como o peixe, morro pela boca, pois se por mais nada, sinto que Hong Kong já me conquistou pelo estômago. Impossível não apreciar uma cidade que o faz, à primeira tentativa.

Hong Kong vista de cima...

... vista de baixo...
... e vista de longe!

A arte de dançar à luz da lua

Encontro, na China, uma forma singularmente aberta de viver o espaço público, sem pudores aparentes, quase como se de uma extensão da privacidade do lar se tratasse.

Apesar da irritação que algumas das liberdades tomadas à vista de todos me possam causar - recordo-me do passageiro de comboio que se entretinha a cantar a plenos pulmões a música que ouvia nos headphone ou daqueles que faziam da mesinha partilhada à janela repositório para cascas de sementes - existe nesta forma de estar em colectivo uma candura que me parece, noutros momentos, encantadora e invejável.

É essa candura que permite que, sem desnecessária vergonha, as pessoas saiam para as praças e parques públicos das suas cidades, enchendo de música, dança e movimentos de tai-chi o escuro do fim do dia ou da primeira manhã. É ela que impele os mais velhos a fazerem seus os jardins, pendurando gaiolas de pássaros nos ramos das árvores e ficando a ouvi-los cantar enquanto lêem o jornal. É por ela que, sobretudo aos fins-de-semana, os parques municipais se vêem ocupados por cantores de karaoke, senhoras desfilando em passarelas improvisadas e gente jogando toda a sorte de jogos habituais e invulgares, desde o mahjong e as cartas ao badminton de pés e ao pião movido a chicote. 

Nestes momentos, há um caleidoscópio de vida que se oferece ao olhar atento de qualquer observador, uma rara oportunidade de ler mais fundo nas caras e corações destas gentes habitualmente reservadas, que, com palavras, jamais contariam tanto de si.

Não sei se leio bem o que me contam estes pequenos retalhos de vida sobre quem os protagoniza, as suas intenções e sentimentos. Não sei se constato factos ou meramente projecto idealizações. É o desafio constante da escrita de viagens. Mas fica registada aqui a impressão, juntamente com algumas fotografias, para que o tempo e a experiência a venham confirmar ou desmentir.

Danças ao fim do dia, em Chengdu
Manejando espadas, em Lijiang
Badminton de pés, em Pequim
Pião e chicote, em Chengdu

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Uma bicicleta em Dali - Parte 2

Dali deixa-se gostar. Seja a sua reduzida dimensão, o seu Inverno ameno e ensolarado ou o ritmo indolente do seu quotidiano, há algo por aqui que convida a ficar, a ver passar o tempo enquanto se passeia ao acaso ou se passa uma tarde de leitura num dos cafés que por cá foram abrindo ao gosto ocidental. 

É uma cidade turística? É, sobretudo desde que, de há alguns anos a esta parte, caiu no goto dos turistas chineses. A este propósito, é elucidativo o facto de, bem no centro da Cidade Velha, se encontrar uma Foreigners Street, cheia daquilo que se supõe poder apelar aos gostos - e à carteira - dos visitantes. 

Mas ao contrário da sua vizinha Lijiang, cujo coração há muito foi substituído por uma estética de plástico bem ao estilo de uma qualquer Disneylândia, em Dali ainda se sente o sangue local a correr nas veias, ainda se vê a vida de todos os dias misturada com a corrente de turistas que alimenta lojas e estabelecimentos de restauração. E aqui, em Dali, facilmente uma pessoa escapa para o azul do lago Er Hai ou para as vistas esplendorosas da montanha Cangshan. Dali existe no enclave entre um e outro e ambos moldam visivelmente a sua dinâmica e a sua psique.

Talvez seja por isso que no Hostel encontro vários residentes de longo prazo que decidiram ficar alguns meses a aprender chinês. Talvez seja por isso que eu própria me deixo desacelerar do ritmo da viagem, adoptando o passo tranquilo de quem já cá estivesse há muito tempo, e incluo mentalmente este pequeno aglomerado urbano entre as minhas duas cidades favoritas das que visitei na China - sendo a outra Chengdu.

Uma das formas de levantar o véu que porventura oculta ao estrangeiro o âmago do dia-a-dia local é visitar um dos mercados da região. Por aqui há vários, a diferentes distâncias e com diferentes dimensões. Decidi-me pela preguiça e visitei o mais próximo, o mercado local, que descobri um pouco ao acaso, quando passeava pela Cidade Velha de nariz no ar.

As ruas vizinhas vão anunciando a sua proximidade com grades de galinhas e cestas de fruta amontoadas no passeio. Mas é assim que cruza a esquina e penetra no recinto propriamente dito que uma pessoa é aturdida por um emaranhado de cheiros e sons que faz estacar.

Aqui vende-se de tudo. Fruta, legumes, animais vivos e mortos, chás, especiarias, frutos secos, comes e bebes vários, roupa e até alguns artigos domésticos. Fujo das ruas dedicadas aos animais vivos, tantas vezes atados sem qualquer cuidado, amontoados em grades ou bacias de água rasa, expostos e manejados com um utilitarismo que se converte facilmente em indiferença. 

A minha sensibilidade neste ponto é facilmente ferida, mesmo quando tento suspender o julgamento para poder conhecer. É, pois, muito rapidamente que avanço para os demais corredores do mercado.

Aí, tenho amplo motivo para me entreter. Maravilho-me com as formas e textura desconhecidas, encolho-me perante os cheiros invasivos, observo, curiosa, e invado discretamente a privacidade do momento com a minha câmara. Por vezes recebo olhares inquisitivos e então, acanhada, guardo a câmara e passo adiante.

Enquanto observadora, sou inevitavelmente um corpo estranho a este tecido coeso e é justamente a minha sede de o conhecer e registar que reforça a minha natureza de corpo estranho. Esse é, desgraçadamente, o destino do visitante, e eu, como os demais, não escapo à regra.






Uma bicicleta em Dali - Parte I

Junto ao lago
Tempo. Deixar correr as horas em silêncio, sob um sol que cega e aconchega em partes iguais. Só o corpo, com o seu esforço de músculos empenhados, dá a medida do tempo que passa, enquanto voamos felizes nas asas de uma bicicleta. 

À esquerda, campos verdejantes, castanhos onde a terra ainda não foi lavrada, polvilhados por figurinhas humanas que espalham sementes, revolvem a terra e carregam às costas o produto do seu trabalho, em cestos de verga compridos. À direita, o lago Er Hai, ora declarado, ora escondido por trás de árvores, mas a cada passo suave e brilhante como um espelho. Por vezes avista-se um barquinho à pesca. A dado passo, surge no meio do verde um pintor de cavalete montado, abrigado do sol por um chapéu de palha cónico. E em pano de fundo para tudo isso, montanhas sobrepostas reflectem no seu enorme corpo o azul do céu e a vaga neblina da manhã.

O majestoso Er Hai
Pedalando, uma pessoa vai entrando e saindo de pequenas aldeias à beira lago, onde incessantes construções denunciam a marcha do tempo. Algumas pouco mais são que lugarejos, amontoados de três ou quatro casas rodeados de terra, outras estendem-se para lá do que a vista alcança.

Numa delas, descansa uma embarcação puxada para terra, servindo de poleiro a pássaros. São os mesmos pássaros que nas aldeias da região os habitantes treinam para a pesca a duas mãos e um bico. Não tive ainda a possibilidade de assistir a esse espetáculo invulgar de cooperação entre homem e pássaro, mas no Hostel onde estou alojada um grande placard na zona comum anuncia, entre outros, um tour dedicado ao fenómeno.

Montanha até perder de vista
Por mim, gosto de organizar os meus próprios passeios. Hoje levantei-me cedo e depois de uma rápida passagem pelo guichet onde se vendem os bilhetes de comboio, entrei na Cidade Velha pelo portão sul, em busca de uma bicicleta para alugar. 

Dali é actualmente uma cidade dividida: a Cidade Velha, que se estende em infinitos cruzamentos de ruelas pejadadas de lojas e restaurantes e alinhadas entre quatro portões designados pelos pontos cardeais; e Nova Dali, a meia hora de distância, cheia de avenidas e prédios, e que a maioria dos turistas apenas visita na hora de ir para a estação de comboios ou autocarros.

Na Cidade Velha, fazendo caminho por entre uma aprazível mistura de turistas e locais, rapidamente encontro uma bicicleta por 15 yuan ao dia, que é qualquer coisa como 2 euros - uma autêntica pechinca, portanto, mas perfeitamente em linha com os preços que se praticam por aqui.

Um negócio abundante, em Dali
Parto um pouco sem destino, ou antes, com o vago propósito de, permitindo as pernas, chegar à cidade de Xizhou, famosa pela sua arquitectura Bai e pelo singular método de pesca de que acima falei. 

A meio caminho acabo por encontrar caras conhecidas. Um casal holandês alojado no mesmo Hostel que eu decidiu fazer hoje o mesmo percurso. Pedalamos juntos à beira lago e após três horas e meia desde a saída de Dali, damo-nos por vencidos: parece impossível encontrar Xizhou. Disseram-nos primeiro que tínhamos ido demasiado longe, depois, que tínhamos voltado demasiado para trás, mas fossemos por onde fossemos, o alvo parecia mais esquivo que nunca.

Regressámos a Dali, pois, e eu, que não tenho o hábito holandês de me deslocar regularmente em duas rodas, fazia da força de vontade combustível para as pernas, que reclamavam do esforço. Chegámos pelas quatro e meia, seis horas e picos depois da minha partida, e foi já de bicicleta na mão, vagarosamente, que subi a rua em direcção à loja onde deveria entregar a minha companheira de jornada.

Lições Zen em Kunming

Kunming é a capital da província do Yunnan e uma cidade de que conheço muito pouco, mas aposto convosco que conheço um local que pouquíssimos turistas conhecerão: o Provincial Red Cross Hospital.

A única fotografia que tenho da cidade
Pois é, na minha passagem por Kunming, que deveria ter sido de dois dias e foi de uma semana, o indesejável aconteceu: fiquei doente ao ponto de ter de visitar um dos hospitais da zona. Andava a embalar uma constipação há uns dias e depois da viagem a Jiuzhaigou, que vos contei no post anterior, a coisa escalou para um febrão, tonturas e uma fantástica cambada de dores.

Grande azar, dirão vocês, mas eu digo que até foi sorte, porque se tivesse adoecido uns dias depois, noutra cidade mais pequena, teria sido pior. 

No Hostel não pareceram particularmente condoídos: era o dia do meu check-out e regras são regras.

- Mas... - ainda balbuciei.

Nem mas nem meio mas. Já havia uma reserva para a minha cama e eu tinha de sair.

Sentia-me tão mal que por momentos pensei largar num pranto. Depois voltei para a cama e aí contemplei a hipótese de me deixar ficar até chamarem a polícia. Acabei por me levantar duas horas depois, mesmo a tempo de às três pancadas enfiar tudo na mochila, mas não sei como me arranjei que sobravam coisas. E a hora do check-out, que estava iminente...

Estava nisto quando bateram à porta. Afinal a outra reserva tinha sido cancelada e eu podia ficar. Entre esganar o mensageiro, saltar de alegria e voltar simplesmente para a cama, acabei por decidir deixar tudo ali e ir para o hospital.

Por esta altura, os sintomas estavam a baralhar-me com a sua intensidade e eu já temia ter sido picada durante o sono por algum bicharoco peçonhento que me tivesse passado qualquer coisa verdadeiramente desagradável.

Na recepção, mais uma vez, um gelo ártico. Lamentavam muito mas não, não me podiam levar a um hospital, nem tão pouco à porta do táxi, porque o pessoal que estava tinha de ficar ao serviço. Já nem discuti. Com a ajuda de outros dois turistas que por ali andavam, lá se conseguiu identificar, pelo menos, a que hospital eu devia ir, onde houvesse a remota hipótese de falarem inglês.

De nome e morada na mão, em chinês claro está, meti-me no taxi e fui. No hospital, universitário por sinal, inglês pouco falavam, mas a omissão foi compensada pela qualidade das instalações e dos cuidados. Da minha passagem por ali posso apenas dizer o melhor. Acompanharam-me do início a fim, sempre com a maior das atenções, traduziram tudo o que foi necessário nos seus super-telemóveis e até lançaram um condoído e genuíno "óóó" quando o termómetro assinalou 39,8 graus centígrados - solidariedade que uma pessoa sempre aprecia nestas situações.

Pois bem, feitas as necessárias consultas e análises, sempre com os super-telemóveis por perto, ficou decidido: era uma infecção respiratória e eu tinha era de ir para casa descansar, fazer medicação e voltar ao fim de três dias se ainda não tivesse melhorado.

Os dias seguintes passei-os numa espécie de torpor estuporado, entre o quarto e a sala de refeições do Hostel. À satisfação de me ter desenvencilhado sozinha veio juntar-se a sensação aguda de uma profunda vulnerabilidade - a que todo o ser humano partilha, suponho - e também, pela primeira vez desde a partida, a realização muito concreta da minha condição de viajante sem co-piloto.

A doença, sobretudo vivida assim, num lugar estranho e sem mimo, construiu ao meu redor um casulo que me removeu da vida que corria à volta, puxando-me para uma torrente confusa de emoções e pensamentos sobre os porquês - coisa em que uma pessoa nem saudável se deve pôr a pensar.

A minha querida mochila, ainda que silenciosamente solidária, pouco mais podia fazer que esperar a passagem deste rebuliço interior. Certo e sabido, ele passou. Não foi logo, assim como não foi logo que o meu corpo voltou aos cem por cento do seu vigor. Mas um dia, como sempre acontece, a vida e o sol voltaram a entrar dentro de mim com o mesmo brilho e eu declarei-me curada.

A doença custou-me muito tempo e energia e obrigou-me a alterar vários dos planos que tinha para as duas últimas semanas de China continental. Tive de abandonar os meus propósitos de percorrer a Garganta do Tigre que Salta, bem como de visitar a província de Guangxi, qual dos dois a maior facada no meu coração viajante.

Mas aos poucos resignei-me. Aceitei. Tornei-me mais grata pelo que estava, ainda assim, ao meu alcance e apercebi-me da importância do alerta que estava a ter sobre o excesso de planos e a impossibilidade de eliminar o imprevisto. Recordo, em particular, o que me disse um outro viajante que estava no mesmo Hostel e junto do qual eu carpia as minhas mágoas pelo que tinha deixado de fazer:

- Pois eu nunca faço planos, por isso nunca me decepciono.

A perfeita lição Zen.

Jiuzhaigou

Basta uma pesquisa no Yahoo (por cá, o Google funciona com demasiados soluços) e fica-se de queixo caído. Lagos de um turquesa tão intenso que juraríamos que alguém se entreteve a derramar-lhes dentro baldes de tinta, cascatas brancas de espuma, arvoredo rendilhado, folhagens de Outono a atirarem os seus vermelhos contra a superfície silenciosa das águas, cores, cores e mais cores. Assim é o cartão de visita de Jiuzhaigou, um parque natural no norte da província de Sichuan, que a cumular a tudo isto conta ainda com a classificação de património mundial da UNESCO.

E porém, estive quase, quase para não ir. Desencorajada pelo preço invulgarmente elevado desta pequena aventura, pela perspectiva de duas viagens de autocarro em três dias, dez horas cada uma, e pelas histórias que ouvira quanto ao número disparatado de turistas acotovelando-se para mais uma fotografia, estava inclinada a entregar-me à preguiça e avançar para outras paragens.

Foi a promessa de companhia para o passeio que me fez mudar de ideias. Isso e a ideia de que mais vale o arrependimento pelo que se fez do que pela oportunidade perdida. No fim de contas, a promessa de companhia saiu gorada, pelo que me agarrrei com unhas e dentes ao segundo motivo e parti, com uma pequena mochila apenas, à aventura.

A viagem em direcção a Jiuzhaigou foi passada a gerir a fome à custa de fruta, bolachas e frutos secos e a dividir o meu assento com o parceiro do lado, que ocupava com calma olímpica assento e meio e de vez em quando me lançava uns sorrisos e umas palavras em chinês, seguramente à laia de compensação.

No fim do trajecto, esperava-me uma cidade fria, tipíca das zonas de altitude, e um hostel no mínimo peculiar. Fiz o check-in - duas vezes, porque o primeiro quarto que me destinaram afinal estava cheio - e após uma sopa wonton no restaurante da porta ao lado decidi dar por terminado o dia.

Encolhida debaixo de mantas grossas e vestida da cabeça aos pés, contemplei a extensão dos meus aposentos. Um quarto partilhado com outros quatro viajantes, construído no quinto andar do hostel, vulgo terraço, com o chão em cimento, mobília espartana e acesso a casa de banho e chuveiros uns metros mais adiante, no dito terraço. 

Apesar do frio siberiano que fazia lá fora, enfrentei o terraço e fui a banhos. Depois disto, restava-me dormir e esperar pelo dia seguinte, confiando na justa recompensa que me tinha sido prometida pelos meus esforços.

A recompensa chegou. Jiuzhaigou é o que prometem as fotografias e muito mais. Seguindo os conselhos que, no hostel anterior, me tinham sido dados por vários viajantes, estava a comprar o bilhete perto das sete e mal entrei no parque, disparei para dentro do primeiro autocarro que vi, ao redor do qual se concentrava já uma pequena multidão.

Após duas semanas e meia de China, uma pessoa deixa de se intimidar com os ajuntamentos. Empurrei, pois, como os demais, e dentro de nada estávamos a caminho de uma das pontas do parque, um recinto em forma de y atravessado a pé ou com a ajuda de autocarros hop on / hop off.

Decidida a optimizar o meu único dia no parque, caminhei cerca de dez horas e posso dizer que quase nenhum minuto passou sem que encontrasse motivo para abrir a boca de espanto. Partilho convosco alguns retratos do meu dia, certa de que outras imagens mereceriam igualmente estar aqui:










Apesar dos avisos quanto à sobrelotação do parque, e mesmo sendo fim-de-semana, encontrei muitos trilhos calmos por entre percursos mais agitados, e recordo-me em particular de um trajecto junto ao Lago Espelho, em que caminhei por uns minutos no absoluto silêncio de um trilho deserto. Um tipo de isolamento a que já não estou habituada, e foi vencendo um certo alarme subconsciente que me decidi a seguir assim, sem gente à vista, apreciando o momento invulgar.

Escrevo estas linhas no autocarro de regresso. O meu corpo experimenta dores e desconfortos vários e faz-me dormir várias horas para lhes escapar. Mas é nos intervalos de vigília que enfrento a primeira e mais fundamental de todas as aventuras na China. Perdoem-me a incursão algo escatológica, mas é impossível não dedicar umas palavras a esse teste à resistência do viajante que é a utilização de uma casa de banho pública nas áreas de serviço em que param os autocarros. Nada de sanitas, nada de portas, apenas uns curtíssimos meios muros a servir de divisória. Vocês imaginam o resto.

Por vezes seria fácil uma pessoa entregar-se ao negativo. Por quanta beleza que se veja, por quantas maravilhas que nos sejam dadas a experimentar, há sempre espaço para uma pessoa lamentar a falta do aconchego e do familiar. Enquanto vejo passar cidades e montanhas do outro lado do vidro, ocorre-me que no fim de contas é a mente, e não o corpo, que decide que sim, hoje foi um dia bom.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Gigantes na bruma

A caminho do topo
Imaginem-se no alto e depois ainda mais alto do que isso. As nuvens abraçam-vos com o seu hálito frio mas o suor empapa-vos a roupa e o cabelo, ao mesmo tempo que qualquer coisa gelatinosa substitui as vossas pernas e o bater desenfreado de uma bomba-relógio pulsa onde antes pulsava o vosso coração. Três coisas apenas vos fazem continuar: a fantástica companhia, que antecipou a sua ida para que vocês pudessem ir também; o vosso amor próprio, que nem mortos vos deixaria ficar pelo caminho; e a vontade insuprimível de chegar ao topo. 

E o que há no topo? A certeza da missão cumprida. Ou talvez não. 

Naquele dia, para mim, a missão só se cumpriu na base, depois de enfrentar em dobro cada um dos tortuosos degraus que ligam o sopé da montanha Hua Shan, uma das cinco montanhas sagradas do Taoísmo, ao seu pico norte, confiando a vida, por vezes, a inquietantes correntes que se oferecem como ponto de apoio quando a subida se torna demasiado íngreme.

E enquanto o esforço me fazia arfar e pedia pequenas pausas para uma respiração mais funda, eu observava os anciães da região subirem e descerem degraus com uma ligeireza que desmentia os pesados fardos que levavam às costas, seguramente provisões para abastecerem as lojinhas que, espontâneas como cogumelos, despontam um pouco por toda a parte a caminho do topo. Qual acrobatas, as suas esguias figuras equilibravam às costas paus com fardos em cada ponta e desenhavam graciosas elipses sempre que as escadas mudavam o sentido da marcha.

Numa dessas pausas passa por nós um chinês, claramente determinado mas sem a mesma ligeireza dos vendedores, e num breve momento, observando o suor que nos tomava de assalto, confessou-nos que já por várias vezes viera subir esta montanha, porque o desafio lhe reforçava a coragem e a força de vontade.

Por esta altura, a minha força de vontade caminhava uns metros abaixo da minha cabeca, o que é dizer qualquer coisa quando parte do percurso o fazemos praticamente de gatas.

E porém, persisti.

No topo!
13km depois, uma t-shirt directa para a lavagem, pernas em modo de emergência, que é aquele modo em que tudo treme e de repente vocês se vêem sentados no chão sem saberem muito bem porquê, e ainda assim o que predomina é uma fanfarra inaudível dentro do peito, que apenas sabe cantar: EU VENCI UMA MONTANHA!

Apesar do nevoeiro cerrado que vos fez subir às cegas quase todo o tempo, os deuses quiseram que na recta final vocês e os vossos dois companheiros de percurso tivessem por troféu uma aberta crescente, por onde o sol do fim do dia veio tornar visíveis e douradas as montanhas que durante horas vos vigiaram a subida, quais gigantes inertes e silenciosos.

De Pequim a Chengdu

Seriam precisos outros trinta dias para partilhar convosco tudo o que sucedeu no primeiro mês de viagem. Demasiadas ideias, demasiadas fotografias e um mecanismo desesperante de gestão do blogue - um tablet não é como um computador, aprendi eu! Assim sendo, da primeira porção de cidades que visitei neste verdadeiro país das maravilhas, escolhi as histórias que mais me apetecia contar e são essas que se seguem. De fora fica ainda muito do essencial... Mas mais posts virão. 

A GRANDE MURALHA, ARREDORES DE PEQUIM


De cortar a respiração... por vezes literalmente! Um percurso nem sempre fácil mas absolutamente inspirador, de Jinshanling em diante, em secções parcialmente não restauradas da muralha e com espaço e silêncio em abundância. Impossível de explicar, a sensação de liberdade e de simples presença, lá no alto.


A paisagem mais para o fim do percurso, a que uma fotografia, com todas as suas virtudes, não pode ainda assim fazer justiça.

PALÁCIO DE VERÃO, PEQUIM


Conquistando o duro caminho até à iluminação, lá bem no topo, no Templo do Incenso Budista. Um dos muitos templos e pavilhões coloridos deste espaço onde, rodeada pelo verde dos jardins e o azul dos lagos, a família imperial em tempos procurou sossego e lazer.


Nem o Inverno perturba a beleza serena de um passeio à beira-lago (só as multidões de fim-de-semana, milagrosamente fora desta fotografia, o podem fazer!)

MERCADO PANJIAYUAN, PEQUIM


Um autêntico must dos fins-de-semana em Pequim, pela sua portentosa extensão e variedade e porque não sei em que outra feira da ladra seria possível comprar estatuária dimensionada para uma qualquer praça pública europeia!

GUERREIROS DE TERRACOTA, ARREDORES DE XIAN


Os afamados guerreiros, com um pormenor apreciável, é certo, bem conservados, é certo, mas tristonhos quando vistos assim, do lado de cá de um mar de turistas que continuamente se abatia contra as barreiras de segurança erguidas a vários metros de distância das escavações. Underwhelming...


Inesperadamente, um dos ângulos que mais me impressionou foi este, tirado do fundo da sala.

MONTANHA HUASHAN, ARREDORES DE XIAN


Apesar do nevoeiro cerrado que prejudicou a vista durante toda a subida, chegar ao pico norte desta montanha e depois descer pelo mesmo caminho foi um dos esforços mais atrozes e mais recompensadores que alguma vez empreendi! Mais pormenores no próximo post.

BAIRRO MUÇULMANO, XIAN



Os cheiros vêm de todos os lados, tal como as luzes e as pessoas. Restaurantes alinhados rua fora, banquinhas onde se cozinha ao ar livre, lojas de tudo o que se possa imaginar comestível, e mais ainda, assim é o bairro muçulmano de Xian, ao qual a noite empresta uma vibração muito particular. Há mais para fazer aqui além de comer, sobretudo durante o dia, mas cá para mim, a hora da refeição é mesmo a melhor para visitar este lugar.

SANTUÁRIO DOS PANDAS, CHENGDU



Depois de uma noite de arromba...

GRANDE BUDA, LESHAN


Se cada orelha mede 7 metros, podem imaginar o tamanho do todo. Impressionante, este Buda gigante, mas também o é a vista fantástica que o seu olhar inerte para sempre contempla! Para os mais perseverantes, há um prémio final: seguindo as escadarias que rodeiam o Buda e evitando a saída, avaça-se quase a solo para uma sonolenta aldeia piscatória, uma ponte a fazer lembrar uma China perdida no tempo e, como sempre, no alto de uma grande subida, um templo rodeado de vistas desafogadas.