Se alguma vez passarem por Hoi An, deixem-me dar-vos um conselho de amiga: não experimentem as panquecas de banana e os bolinhos de côco fritos. Sobretudo, não experimentem os dois de uma vez!
Poderão sentir-se tentados, por estarem com fome e verem turistas a comprar daquilo por toda a parte. Mas garanto-vos que depois andarão a deambular pelas ruas com o estômago do avesso e a boca a saber a fritadeira industrial.
Poderão sentir-se tentados, por estarem com fome e verem turistas a comprar daquilo por toda a parte. Mas garanto-vos que depois andarão a deambular pelas ruas com o estômago do avesso e a boca a saber a fritadeira industrial.
Versão banana |
Versão côco |
Muitos viajantes desenvolvem uma paixão fervorosa por Hoi An. E razões para enunciar a seu favor não faltam. Há o charme da sua Cidade Antiga, que a UNESCO classificou como património da humanidade. A praia à mão de semear. Os mistérios culinários envolvidos na preparação do seu do cao lau - um prato de massa com carne de porco e vegetais, que, segundo dizem, só com a água de uma fonte local fica no ponto.
Uma coisa é certa: se a oportunidade de mandar fazer um guarda-roupa inteiro por medida, do dia para a noite, por tuta e meia, for um dos pontos altos da vossa visita ao Vietname, então Hoi An é a vossa cidade. Escolha não faltará; a única dificuldade será, talvez, diferenciar umas lojas das outras, no meio de uma multidão de similitude.
Para mim, a cidade tem aquela nota tristonha dos lugares do Sudeste Asiático que decidiram apontar todas as suas baterias em direcção à indústria turística. O que não quer dizer que me tenha sentido absolutamente impedida de apreciar os dias que lá passei. Para usar uma expressão que vai sendo lugar comum nos foruns virtuais dedicados a esta parte da Ásia, Hoi An não será necessariamente o Vietname "real", mas tem as suas virtudes. Sobretudo se, quando chegarem ao epicentro turístico da cidade, estiverem dispostos a dar meia volta e caminhar na direcção oposta.
Eis o que prefiro recordar quando recordo Hoi An:
Ponte japonesa, um dos ícones de Hoi An |
Na Cidade Antiga |
Uma coisa é certa: se a oportunidade de mandar fazer um guarda-roupa inteiro por medida, do dia para a noite, por tuta e meia, for um dos pontos altos da vossa visita ao Vietname, então Hoi An é a vossa cidade. Escolha não faltará; a única dificuldade será, talvez, diferenciar umas lojas das outras, no meio de uma multidão de similitude.
Para mim, a cidade tem aquela nota tristonha dos lugares do Sudeste Asiático que decidiram apontar todas as suas baterias em direcção à indústria turística. O que não quer dizer que me tenha sentido absolutamente impedida de apreciar os dias que lá passei. Para usar uma expressão que vai sendo lugar comum nos foruns virtuais dedicados a esta parte da Ásia, Hoi An não será necessariamente o Vietname "real", mas tem as suas virtudes. Sobretudo se, quando chegarem ao epicentro turístico da cidade, estiverem dispostos a dar meia volta e caminhar na direcção oposta.
Eis o que prefiro recordar quando recordo Hoi An:
- O caminho menos percorrido em direcção à cidade. Se, como eu, vierem de Hue, a forma mais simples e porventura barata de chegarem a Hoi An será por autocarro na via rápida. Essa é, também, a forma menos pitoresca de fazer o percurso. Para um cheirinho de aventura e um cenário natural de encher o olho - mesmo num dia invernoso - apanhem o comboio até Danang e daí transfiram as vossas pessoas e bagagens para o autocarro local de Danang para Hoi An. Para além de bonitas vistas da orla costeira do Vietname, terão uma grande oportunidade de meterem conversa com locais. E, no autocarro, poderão testar a vossa capacidade de regateio ao comprarem o bilhete a bordo. Na altura em que eu apanhei o transporte, o preço pedido aos turistas ia em cinquenta dong, sendo o preço para locais algo entre dezoito e vinte e dois. Devo dizer-vos que regatear não está sequer remotamente nos meus genes. Mas se alguma coisa aprendi a tentar fazê-lo foi que grande parte passa por usar de uma firmeza tranquila, sempre sorridente, e nunca encostar o interlocutor à parede. Nem todos concordam neste ponto, mas eu pertenço ao campo dos que acreditam que é justo que os turistas paguem um pouco mais que os locais por bens e serviços nestes países.
Nunca um verde-cinza pareceu tão belo |
Viajando ao lado de uma simpática jovem vietnamita |
- Um passeio de bicicleta junto à costa, num dia de inverno. Não terão uma praia em sentido próprio, mas terão o areal deserto e as palmeiras poeticamente ondulantes só para vós. No dia em que me aventurei no percurso o mar estava cinzento de núvens e branco de espuma, contando-me histórias de tempestadas magníficas na segurança da terra firme. Pedalei ao abandono, até a estrada se tornar mais ampla e os edifícios esparsos. Um recinto festivo, onde se celebrava um casamento, atraiu-me finalmente para longe da costa. Seguindo os meandros de ruelas enlameadas, entrei por uma aldeia piscatória dentro, espreitando os seus recantos e casas simples. Quando encostei a bicicleta a um muro, para descansar e para me situar, uma senhora meteu conversa comigo através da rede que delimitava o pátio da sua casa. À saída, demorei um bom bocado até encontrar o caminho de volta para a beira-mar. E então andei perdida, no melhor sentido termo.
Praia de inverno. Tenho dito! |
Pedalando sem mapa nem norte numa aldeia de pescadores |
- Uma refeição nocturna no mercado local. Numa noite de chuva irritantemente imparável fui conduzida pela A. - uma amiga argentina feita ainda em Hue - aos bancos e mesas despojados do mercado local, que àquela hora funcionava já a menos de meio gás. A comida era a que sobrara do dia, mas nem por isso menos gostosa. Um pouco disto, se faz favor. E um pouco daquilo, também. Peixe, ovos, arroz, legumes, uma montanha criada no prato, e nunca comida requentada me soube tão bem. Sem luxos, nem esforços de higiene particulares, mas tudo perfeito, assim. Tão perfeito que lá voltei mais uma vez, desta vez levando um amoroso casal chileno com quem travara amizade no autocarro para a cidade.
Quem precisa de ementa quando apontar o dedo basta... |
- Um almoço inesperado à beira da estrada. Ziguezagueando pelas ruas de bicicleta, passei por acaso junto a uma baquinha ocupada apenas por locais, recheada de comida com ar apetitoso e gerida por três simpáticas senhoras a quem, por gestos e desenhos, sinalizei que não queria carne. Elas primeiro estranharam a minha presença e depois sorriram que sim. Acomodada num banquinho rente ao chão, como parecem ser todos os banquinhos por estas paragens, ataquei vorazmente a minha porção generosa de massa de arroz achatada, vegetais, ervas aromáticas e, como não podia deixar de ser, umas boas litradas do adocicado mas picante molho que reluzia à minha frente dentro de um frasco. Hesitar para quê? Foi tão bom que antes de partir da cidade fiz questão de lá voltar para mais uma refeição deliciosa e um retrato.
- Uma visita guiada aos templos de My Son. A primeira coisa que me ensinaram foi a dizer "mi-san" e não "mai-san". O nome, explicou o entusiástico guia, nada tem que ver com pais e filhos; significa "bela montanha" e o seu porquê torna-se evidente ao olhar para a linha do horizonte. Corei pela minha ignorância ao ter americanizado um nome local. My Son é um complexo de templos hindus dedicados ao culto de Shiva, construídos entre os sécs. IV e XIII pelos reis do reino Champa. As exactas técnicas de construção utilizadas são, ainda hoje, um mistério, nomeadamente no que respeita à forma pela qual os tijolos foram unidos e à razão pela qual as paredes originais não decaem nem ganham musgo, ao contrário do que sucedeu com as paredes acrescentadas posteriormente. Mas nem só o engenho humano precoce espanta e esmaga neste local. Visitar My Son é, também, enfrentar as cicatrizes deixadas pela guerra neste país. Num esforço para derrotar as forças do Viet Cong, os americanos bombardearam pesadamente o local, o que significa que, infelizmente, muitas das estruturas se encontram gravemente danificadas e algumas foram mesmo destruídas por completo. Um aspecto que o guia sublinha uma e outra vez, levando-nos de cratera em cratera e apresentando-nos a um impressionante exemplar de bomba - há muito desactivada - recolhido neste local.
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My Son |
O engenho humano no seu melhor e pior |
Complexo de templos dedicados a Shiva |